Saio da faculdade, atravesso a rua cobre e vejo uma flor, não era um girassol, uma rosa, nem uma Jandira. Era uma flor de papel: um galho perfurava os panfletos de algum curso. Em meio aquele caos de informação que é a cidade pensei: será uma flor de uma espécie urbana? Será uma flor urbana? Senti-me um tanto quanto confusa, porque no meio de tantos prédios, estruturas de aço, indústrias, outdoors acabamos nos confundindo entre o natural e o que chamamos de real. Continuo o meu percurso, até chegar a minha casa. Estava com alguma fome, mas não parava de pensar naquela flor, liguei o computador e navegando pela internet vi uma foto da Praça 7, em Belo Horizonte, na primeira metade do século XX, esta se localiza na confluência das avenidas Afonso Penna e Amazonas, onde há um monumento cujo obelisco foi e é chamado até hoje pelos belorizontinos de Pirulito. A foto indicava uma avenida repleta de árvores e pouquíssimos prédios compunham a cena, dá caótica Avenida Afonso Penna de hoje. Apesar de Belo Horizonte ter sido inaugurada em 1890 e já em seu projeto ter sido planejada para ser uma cidade com uma arquitetura moderna.
Nessa foto as pessoas transitavam no meio da rua em plena Praça 7, porque o único transporte público que havia em Belo Horizonte era o bonde a vapor, este teve a sua inauguração em 07/09/1895, a impressão que a foto passa é que as pessoas literalmente esperavam o bonde passar e o tempo parecia passar mais devagar para os mineiros daquela época. No ano de 1912 foi instalado pela General Eletric bondes elétricos em algumas ruas de Belo Horizonte. Os primeiros ônibus chegaram por aqui em 1922, embora os mineiros transitassem nessa época mais de bondes e a pé. Mais tarde em 1959 o serviço foi entregue ao Departamento de Bondes e Ônibus, que era um setor do município, e este operou o último bonde em Belo Horizonte em 30/06/1963. Belo Horizonte é uma cidade com algumas muitas praças, embora em boa parte dessas eu não veja as pessoas tendo uma relação direta com esse bem público, salvo: Praça do Papa e Praça da Liberdade?. As praças hoje em dia perderam a graça, afinal a vida está tão corrida e violenta que as pessoas passam por elas como se passassem por uma rua qualquer .Os espaços privados passaram a ser o ponto de encontro das pessoas, principalmente as ilhas de consumo: shoppings, galerias, bares, cafés. Os espaços públicos perderam para a concorrência privada. A rua está tomada por carros, ônibus, motos, máquinas e as pessoas disputam um espaço na rua para viverem alguns dias e sobreviverem em outros dias. O ar se torna asfixiante. O que houve com a nossa rua pública? E com as flores de verdade? E com os seres humanos? O que houve com eles?
Tarsila Costa